quinta-feira, 12 de julho de 2012

Em 2049


por Horácio Mouta


No ano de 2049, enquanto um septuagenário senhor tentava fazer uma Hyosung 2010 funcionar, seu neto de oito anos chega e faz a seguinte pergunta:

— Vovô, por quê o senhor vive consertando essa moto tão velha, se dá pra comprar uma novinha? 

— Meu filho, essa coisa faz parte da história desse seu velho. Durante minha juventude passeava por aí montado em Hondas e Yamahas barulhentas que tocavam minha alma. Naquela época existiam as motos quase sagradas para os motociclistas. Eram Harley-Davidson e Ducati, que tinham em seus motores V2 a fórmula do sucesso. Sonhei muito com elas.

— Mas como elas faziam barulho? 

— Talvez você não entenda bem, mas naquela época usávamos o fogo para muita coisa, inclusive para preparar alimentos. Os motores também funcionavam com fogo. Eles transformavam a explosão do combustível dentro de um cilindro fechado em movimento linear, que por sua vez era convertido em movimento angular, repassado ao câmbio e depois à roda. Haviam centenas de explosões por minuto e o som delas passava por um silenciador, que felizmente não era capaz de acabar com o que era chamado de ronco. 

— Devia ser legal esse tal de ronco. 

— E como era. Quando mais girava o acelerador, mais barulho o motor fazia. Até o coração batia mais forte. 

— Mas, vô, se era legal, por quê acabam com essas motos a fogo?

— Diziam que elas poluíam muito. Eu não acredito. 

— Queria saber como era esse tal de ronco.


— Venha ouvi-lo, então. Guardei um vídeo.


Fonte: http://www.motoreport.com.br/2012/06/em-2049.html#ixzz20PhntvTa

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