quinta-feira, 19 de julho de 2012

V-Rod Muscle – A Sangue Azul de Milwaukee



Claro que há outras motos que merecem um título pomposo, mas hoje vamos prosear sobre a V-Rod Muscle, ou Ellis, a Baronesa de Milwaukee, sempre contando as impressões de um piloto, não de um engenheiro!

Vamos começar logo comentando o porquê que não teria esta moto:

- Se fosse minha moto de estreia;
- Se tivesse feito uma promessa para o padroeiro das motocicletas que nunca compraria motos pretas com o símbolo shield+Bar estampado no tanque;
- Se fosse tímido e não quisesse me destacar no trânsito ou a estrada;
- Se tivesse medo ou mesmo fobia de velocidade, e principalmente de aceleração;
- Se ainda não pudesse pagar por ela (e olha que em 2009 ela custava mais de R$ 80.000,00);
- Fosse minha única moto;
- Minha “outra” moto fosse uma V-Rod Muscle.

Se você não se encaixa em nenhuma das afirmações acima, toca para a H-D mais próxima e conheça a Ellis de perto.



Sim, para quem conhece a marca fica difícil posicioná-la nas linhas tradicionais. Não é uma “touring”, estradeira por excelência, nem uma Sportster com DNA urbano, tanto que a marca da “Barra e Escudo”, há 10 anos atrás, criou uma linha especial para a híbrida: a VRSC (V-Twin Racing Street Custom), ou Custom Urbana com motor V2 de Corrida, que caracteriza a família V-Rod, nome derivado dos “muscle cars” americanos (Hot Rods).

É bom começar assim para deixar claras as minhas impressões: sabe a Nightrod Special que analisei em abril? Esqueça! Na época, fiquei meio desapontado com alguns detalhes negligenciados pela H-D naquele modelo comemorativo. Apesar do modelo Special chamar mais atenção pelo seu belo grafismo laranja, a Musculosa Ellis privilegia a sobriedade e o bom gosto no acabamento.



Para pagar a língua, tudo com o que entortei o nariz para aquele modelo foi suprido pela “Baronesa V-Rod Muscle de Milwaukee”.

Os detalhes são bem acabados, as peças e acessórios metálicos com acabamento escovado são de extremo bom gosto combinando com a moto. Não sobram pontas de parafusos, cromação mal feita, nem pedaleiras com rebarbas.

Nem tanto ao céu, nem tanto à estrada

A moto privilegia pilotos com mais de 1,80 metro de altura, mas mesmo assim, a pilotagem por longos períodos, mesmo na estrada, cansa. O piloto fica em posição de “anzol”, e esta quase posição de Ioga por mais de uma hora extenua o mais experiente dos Iogues.

Curva não é com ela. Mas isso nem precisa ligar o motor para descobrir, é só olhá-la pela traseira, a banda pneu 240/40-18 quase deixa ela em pé sem precisar de pezinho. O contra-esterço se faz necessário para facilitar nas curvas. Explicando: para motos mais rebeldes em curvas, inicia-se a manobra puxando o guidão levemente para o sentido oposto ao da curva, isso fará com que a moto deite para o lado contrário (que tem menos apoio) iniciando a curva para o lado certo. Coisa do capeta? Sim, quase, mas funciona! E é importante para conduzir a Baronesa.

Ein großer Motor

A 7.750 rpm os 122 cavalos relincham em alemão, e se não precisasse de combustível líquido para roncar, pediria chucrute e einsbein… Sabe por quê? Ele foi desenvolvido em parceria com nada menos do que a lendária Porsche. Ééééé, o motor possui tecnologia da exclusiva marca germânica. E esta tropa beberrona fez comigo 13 quilômetros por litro na estrada aberta. Isto compromete a autonomia, consumindo rapidamente os 18,9 litros do tanque.

O motorzão tem “ruído” poderoso mas contido. Não é estridente mas impõe respeito, além de dar muita segurança em ultrapassagens em qualquer marcha do seu câmbio de 5 velocidades bem dimensionado. A primeira e a segunda esticam muito bem evitando aquele sobe e desce de marchas no trânsito. A aceleração é o seu ponto forte. Se o vivente enrolar o cabo muito rápido em primeira marcha vai se desprender até da alma. Agora se tiver a infeliz ideia de carregar a(o) namorada(o) na terrível garupa, vai iniciar uma crise conjugal. Provavelmente no hospital.

Já o banco do piloto alia beleza com conforto, apoiando bem a região do cóccix. A rabeta arqueada acompanhando o formato do para-lama traseiro também foi caprichada em seu design, assim como os retrovisores de formato tradicional da H-D, com pisca-piscas embarcados. Já que falamos em design, a H-D, analogamente à sua versão Special da V-Rod, acertadamente tirou a tampa de cima do tanque e, estranhamente, a escondeu sob o assento do piloto, o que não me agradou muito. É como se você tivesse que abrir o porta-malas para abastecer seu carro. Quem já teve fusca antigo sabe o que é isso. Bizarro e nada funcional.



Os freios Brembo de disco duplo dianteiro e simples traseiro equipados com ABS desempenham bem sua função. Fiz o infame teste de frenagem abrupta em pista com areia e a Baronesa se comportou de forma bem estável, acionando efetivamente o ABS.

Não preciso dizer que a Baronesa Ellis se perde no trânsito pesado, não esterça muito, é pesada e comprida demais (2,4 metros).

Para os customizadores de plantão, Ellis não dá muito espaço para esta prática, muitas vezes de gosto duvidoso. Mas com certeza ainda vamos ver por aí V-Rods de para-brisa, bagageiro, neon e demais tralhas e adereços carnavalescos!

Um evento que vale citar: parei no farol em uma famosa avenida da capital paulistana. Domingo. Rua vazia. Para um Porsche Carrera branco ao meu lado direito. O figura do carro vira, olha e sorri. Em ponto neutro pisa no acelerador. Revoada de pombos na calçada. Fingi que não percebi o tom de desafio, observando pela visão periférica e já me divertindo. Outra acelerada. Eu, nada… Sinal verde! O queridão sai deixando metade dos pneus na faixa de pedestres. Dois quarteirões à frente, uns 5 segundos depois, blitz! Eis que avisto um belo Porsche Carrera branco parado e um figurão fora do carro gesticulando com o guarda. Passei, puxei a embreagem e acelerei. Olhei, sorri e segui. Moral da história: imaturidade, dinheiro e potência não combinam, e isso vale para motos da estirpe da Ellis.

Concluindo, a Ellis tem um público bastante específico, quase um nicho de mercado: pessoas maduras que sempre sonharam em uma Power Cruiser vistosa, elegante, ao mesmo tempo sóbria, com temperamento forte e poderosa. Enfim, uma verdadeira “sangue azul”, a Baronesa de Milwaukee, a terra de William S. Harley e Arthur Davidson.

Keep Riding!

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