sábado, 15 de dezembro de 2012

DESAFIO ESTRADEIRO



Corria o ano de 2005, e eu era ávido leitor da revista semanal inglesa Autocar, a mais antiga do mundo. Um belo dia, coloco as mãos no exemplar que está acima, pago no caixa e vou olhando para a foto, com dois carros maravilhosos, e já imaginado o que os ingleses malucos haviam inventado dessa vez, comparando um BMW com um Ferrari.

Ferrari F430, sucessor do fabuloso 360 Modena e BMW M5 com o recurso M-Sport haviam sido lançados há poucos meses e dividiam, junto com outros carros potentíssimos, os sonhos de entusiastas mundo afora.


Na matéria, intitulada "Twin Peaks", a revista perguntava se um carro que tinha 17 hp a mais, o dobro de lugares, um grande porta-malas, era 380 kg  mais  pesado e custava metade do preço, poderia bater um esportivo puro de motor central com emblema de cavalo empinado. Parecia piada de primeiro de abril, ou similar, mas alguns minutos de leitura esclareciam muita coisa.

Tudo começa, dinamicamente falando, na autoestrada a caminho do País de Gales, em busca de espaços abertos e pouco trânsito. Com o F430 vindo atrás, o autor da matéria, Steve Sutcliffe,  cravou o pé no acelerador em segunda marcha a 2.500 rpm e em 3 segundos o Ferrari estava a cerca de 10 metros atrás. Até 5.000 rpm do BMW era possível escutar o berro do V-8  Ferrari logo atrás, som que desapareceu após isso, quando o V-10 da fábrica de motores da Bavária  emitia um ruído descrito como "industrial", e provocava uma surpresa que ninguém esperava: aumentar a distância entre as duas máquinas maravilhosas.

Parada no acostamento logo à frente para uma troca de ideias, e sintonizar os cérebros com o que haviam acabado de presenciar.  O alemão havia acelerado mais que o carro italiano.

Depois de um tempo, já no País de Gales, em estradas de mão dupla, curvas apertadas, sem compensação de inclinação, ondulações e outras imperfeições, mais surpresas.

Aparentemente, esse era o ambiente perfeito para o F430, e para qualquer Ferrari com esquema de carro de corrida, com motor central. E um lugar hostil para um sedã grande e pesado.

Mas o que se viu foi novamente o M5 abrindo e abrindo espaço ao longo dessa estrada, e depois de alguns quilômetros, não havia mais Ferrari  a vista no retrovisor.

Obviamente a revista não iria terminar o trabalho por aí, e os motoristas tinham que ser trocados para eliminar o fato de que um poderia ter mais habilidade que o outro. Não se poderia simplesmente declarar que um Ferrari havia sido batido por um BMW e voltar para casa para escrever a estória.

E assim foi feito,  repetido o trecho sinuoso, com Sutcliffe agora a bordo do F430, com o mesmo resultado: Ferrari atrás, fora do campo de visão do BMW.

Houve também a tentativa de deixar o Ferrari na frente para ver o que acontecia, se este poderia despachar o BMW, mas não deu certo.

Nas palavras de Sutcliffe: "E foi isso. Não importa o quão forte eu tentasse, ou quão rápido eu dirigisse, ou quão conectado ou bem eu me sentisse enquanto fizesse isso, eu ainda não conseguia me soltar do cara no BMW".

O principal motivo pela disparidade que pegou a todos de surpresa, foi a faixa útil de distribuição de potência de ambos os carros. O M5 tem potência de sobra em todas as rotações, enquanto o Ferrari só brilhava acima de 5.000 rpm. No mundo real, fora de pistas de corrida, muito mais fácil para o pesado sedã alemão.

Além disso, o câmbio sequencial de 7 marchas do M5 era muito superior ao de 6 do Ferrari, em todos os sentidos. Velocidade de troca, qualidade do acoplamento da embreagem e ausência de trancos, reforçando as características de um dos grandes motores da história automobilística, o V-10 BMW.

Cinco anos se passaram, muita coisa mudou, novos modelos, motores, objetivos de mercados de cada carro. Mas ficou a marca de uma disputa com dois carros sensacionais, cujo resultado foi absolutamente de outro mundo.

Estórias que ficam para sempre marcadas na mente de quem as lê.

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