terça-feira, 10 de julho de 2012

Shadow 750: uma estradeira que virou urbana


A estadia da Branca de Neve no Best Riders infelizmente acabou e nos preparamos para o próximo conto de fadas, digo, Teste do Mês. Mas antes disso, temos ainda uma última avaliação da princesa Shadow 750 em solo asfáltico. Em três dias rodei exatos 490 quilômetros em rodovias com duas ou três faixas. Meu perímetro urbano se resumiu ao trecho entre a Zona Sul de São Paulo até a entrada da Rodovia Castello Branco.
A Shadow 750 não foi exatamente uma novidade em questão de pilotagem para mim. Já tive a oportunidade de rodar algumas centenas de quilômetros com uma das suas irmãs mais velhas, o modelo 2006. Apesar de algumas diferenças bem perceptíveis (a diminuição do entre-eixos, da suspensão e pneu dianteiro), uma característica persiste como marca registrada: a Branca de Neve irá te atirar sem dó para cima quando passar por algum desnível.
Voltando à pilotagem urbana, o novo modelo é bem mais amigável para se rodar nas cidades. Redimensionada para andar em regiões urbanas, a moto se sai tão bem em locais mais apertados quanto modelos custom de menor motorização e tamanho. Por sinal, este é um trabalho bem claro que a Honda realiza em agradar os motociclistas urbanos, em detrimento dos estradeiros, e com isso aumentar o número de vendas. Um sinal bem claro dessa política é que a capacidade do tanque de combustível da Branca de Neve é um dos menores entre os concorrentes e o consumo médio se equipara a de uma naked 250.
De duas medições feitas na rodovia, a média de consumo ficou em 21,4 km/l, andando sempre entre 100 km/h a 130 km/h e no plano. Desta forma, a autonomia fechou em 313 quilômetros (a Branca de Neve tem sua cintura magrinha, com capacidade de 14,6 litros em seu ventre). Dentre as demais motos custom, a Shadow é a que tem menor capacidade do tanque de combustível. A Kawasaki Vulcan LT está na liderança com 20 litros, seguidas pela Yamaha Midnight Star, 17 litros, e Suzuki Boulevard M800, 15,5 litros.
Com isso, a Shadow também ganha no quesito peso. A Vulcan novamente lidera com 282 quilos a seco, seguidas da Boulevard, 269 kg, Midnight Star, 261 kg, e a pequena Branca com somente 229 kg sobre seus lindos sapatinhos de borracha. E por falar em sapatos, o pneu fino na dianteira se assemelha muito aos modelos pilotados pelos Hells Angels tupiniquins, com suas Harleys abrasileiradas. Para a cidade, a mudança é positiva e torna a moto muito mais ágil. Já para a estrada, a redução diminui um pouco a estabilidade direcional.
Ponto para a Branca é seu assento macio e confortável, digo, pelo menos para o piloto. O garupa sofre do mesmo mal encontrado na Harley: pequeno e duro, mas não tanto quanto o da Custom 1200, que chega a ser uma infâmia para um passeio à tarde com a digníssima.
Acho que é importante destacar que quem espera grande potência e velocidade final da Shadow 750 poderá ficar um pouco decepcionado. Por ser projetada para uso urbano, ela é mais que eficiente para ultrapassagens dentro da cidade. Mas para a estrada, acaba não sendo a melhor opção. A menos que você queira viajar sempre em uma velocidade de cruzeiro, entre 80 km/h a 120 km/h.
Não tenho reclamações das suspensões e freios da Branca de Neve. Percorri mais de 200 quilômetros seguidos com chuva intermitente e a Shadow teve boa resposta no seu sistema de frenagem (Pelo menos rodando no asfalto. Nada de terra, saibro ou qualquer outro tipo de pavimentação irregular. Você não convidaria sua princesa toda arrumada para pegar poeira né? Brincadeiras a parte).
Na verdade, o que me incomodou foram alguns pequenos detalhes. Um deles é a ausência de um relógio no painel (fato que já vinha ocorrendo nos modelos mais antigos), principalmente para viagens. Conheço pessoas que adaptaram um relógio digital em um canto do painel. Mas como fazer para que não roubem quando a moto estiver estacionada na rua? Retirar sempre que estacionar? Muito trabalho né!? Segundo problema, como já mencionado na primeira avaliação por Edgar Rocha: os espelhos quadrados são pouco eficientes e deixam uma grande margem sem cobertura.
Fotos: divulgação
Pontos positivos da Branca: a embreagem é extremamente macia. Talvez seja possível acioná-lo completamente com apenas um dedo. No punho direito, outro acerto da Honda. O acelerador é bem sensível e a resposta é perfeita em todas as velocidades.
Assim concluo que essa mudança drástica de proposta da Shadow feita em 2011 fez bem para a moto. Em um mercado saturado de concorrentes com propostas mais estradeira e clássica (como era a Shadow fabricada entre 2007 e 2011), a Honda buscou uma diferenciação. Entendeu que boa parte dos consumidores utiliza essa moto no dia a dia, pois são pouco visadas, são fáceis de andar e traz um status interessante. Então, por que não fazer o modelo mais adequado para isso? Mesmo assim, ela não fica muito aquém das concorrentes nas estradas, principalmente em viagens curtas.
Realmente quem busca um estilo mais clássico, pode achar a Shadow urbana demais. Mas se você quer uma moto custom e pretende usar na cidade, pode ter certeza que ela é uma das melhores opções. Curiosamente, a mais próxima dela em proposta e preço é a Harley-Davidson 883 Iron que sai por R$ 29.400.


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