Das marcas com fábrica no Brasil, a que menos produtos novos apresentou no Salão Duas Rodas foi a Kasinski. O único modelo comercialmente importante mostrado pela marca foi a GT 650, uma naked que foi anunciada naquele momento com boa capacidade de modificar o panorama do segmento. Mas isso não se revelou real no momento em que a moto chegou ao mercado de fato.
Nos indicadores de emplacamentos da Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos) a moto nem aparece entre as dez mais emplacadas no segmento, que inclui as motos de todas as cilindradas dentro da categoria. Os números da Abraciclo (associação que reúne os fabricantes de motos e bicicletas), a Comet GT 650 teve um volume vendido no primeiro quadrimestre de 2012 de 81 unidades, praticamente o mesmo volume de sua irmã esportiva Comet GT-R 650.
Quando de seu lançamento no Salão Duas Rodas do ano passado, o presidente da Kasinski, Claudio Rosa, disse que a Comet GT 650 seria a moto mais acessível para quem quisesse ir além das 250, sobretudo pelo preço competitivo. A previsão de Rosa revelou-se falha, pois mesmo com o preço muito atrativo – R$20.810,00 (tabela FIPE – maio/2012), os dados de venda do mercado mostram que a moto ainda não emplacou. Todas as concorrentes do segmento custam mais e vendem mais.
A Comet GT 650 é na verdade mais uma variação sobre um mesmo tema. A Kasinski tem vários produtos com a mesma motorização. A Mirage 650, a Comet GT 650 R e agora a Comet GT 650. Mas fora as Mirage, as duas outras compartilham o mesmo chassi, variando a posição de conduzir, carenagem e outros acertos. Isso se chama economia de escala. Quando se fabrica um produto e não há programa para muitas unidades, as peças exigem grande investimento em ferramental e desenvolvimento. Então, ao agregar mais produtos com a mesma configuração o custo pode ficar mais baixo pois a amortização do investimento melhora com a produção de mais peças. O consumidor ganha porque pode contar com mais opções e assim, a naked da Kasinski ficou viável com poucas modificações.
Ela é uma moto do tipo “amo ou odeio”. Ela possui detalhes interessantes que causam muita discussão. Um destes detalhes é o banco vermelho sobreposto na rabeta. Outro é o design do conjunto que deixa a impressão de que ela é uma esportiva que levou uma tombo e as carenagens fora retiradas, como acontecia de fato com as antigas Yamaha RD 350. Essa impressão é dada sobretudo pelo radiador totalmente exposto e sem nenhuma proteção. Uma primeira olhada deixa a impressão de que realmente faltou uma peça no local. Com certeza, uma acabamento adicionaria na estética e protegeria o componente.
Contudo, ela é uma verdadeira “streetfighter” e traz esse conceito claríssimo no seu desenho. O chassi totalmente à mostra se reflete atual e os dois tubos paralelos e a pequena triangulação para a participação do motor na estrutura da moto transmitem força. O farol de desenho trapezoidal impõe a personalidade moderna desta Naked.
Na cidade
Rodar com a Kasinski Comet GT 650 mostra logo seu destaque. O motor V2 de 650 cilindradas mostra bem a sua força, com o ronco sincopado e respostas imediatas, o que na na cidade se reflete em boa saida, boa aceleração e sensível melhora nas respostas do acelerador em relação à do ano passado. Nas condições do trânsito a posição de conduzir é bem mais confortável, com o guidão mais alto do que o da Comet GT-R 650. Isso reflete no conforto.
A maneabilidade é um pouco incerta por causa da distribuição diferente de peso. Também o mesmo ângulo de esterço da esportiva ainda permanece na Naked, pois os batentes são os mesmos e isso limita as manobras.
Na estrada
O maior conforto na cidade se revela também na estrada. Isso se não for rodar por muito tempo pois a maior proteção da carenagem da GT-R faz falta para eliminar o efeito do vento sobre o piloto. A posição ereta favorece estradas mais sinuosas e com piso não tão bom. As pedaleiras estão em posição favorável para absorver os impactos com as pernas, mas ainda um pouco flexionadas como na esportiva. Para um eventual garupa também, a posição é mais ereta e com a altura maior do banco emprestado da GTR ficou bem melhor.
Exatamente a mesma moto que a Comet GT-R 650, menos as carenagens e com um guidão mais alto. Na geometria tudo se repete. Entretanto, a distribuição de peso com o piloto mais ereto coloca mais peso sobre a traseira e isso acabou por penalisar um pouco a dirigibilidade. Um bom ajuste da suspensão pode compensar esse efeito, abrindo um pouco o ajuste hidráulico ou abaixando um pouco a frente, deslizando as bengalas alguns milímetros para cima. Com um pouco de atenção o próprio usuário ou concessionária pode reequilibrar a ciclística, mas a fábrica deveria ter feito isso.
O motor, da mesma maneira que na GT-R, não parece tão potente quanto especificado (81,5 cv a 9500 rpm), mas tem bastante torque e é muito fácil de se levar. Os 6,9 Kgf.m a 7.250 rpm realizam um bom trabalho. é possível andar tranquilamente em terceira marcha e quando quiser uma retomada é só acelerar que o motor cresce com força suficiente. Em saídas de curvas a aceleração é boa, mas não se compara com outras motos até de menor potência declarada.
É importante destacar que uma potência específica acima de 0,13 cv/cm³ deve ser considerado um motor de altíssima performance, que não teria as mesmas características desse motor. Então, estão faltando alguns cilindros a mais (quatro, quem sabe), “ram air”, válvula no escapamento, duplo injetor por cilindro, comandos variáveis, etc.
Para as necessidades e características da motocicleta o motor se encaixa bem, providenciando boa potência e torque adequados, mas poderia ter um consumo melhor pois média de 16 km/l é bom para motos de 1000 cc.
O câmbio de seis marchas combina muito bem com o uso do motor. Há uma marcha para cada ocasião e ainda assim não é necessária tanta troca por causa do bom torque do motor. As mudanças são rápidas e precisas e as trocas passam despercebidas facilmente, provando a sua qualidade e precisão nas trocas. Mas a fábrica deve mudar a posição da alavanca de câmbio, que permanece como na GTR. Apesar de ser de fácil ajuste, mostra uma certa falta de atenção com os detalhes. A embreagem se mostra muito competente também, mantendo-se constante em todo teste e ajudando bastante no acoplamento do motor ao câmbio. A transmissão final por corrente tem boa dimensão para a moto e promete boa durabilidade.
Bons freios a disco nas duas rodas, trazem sensibilidade e precisão nas frenagens, sendo duplo na frente e simples atrás. Os dianteiros são flutuantes com pinças de quatro pistões e fixação convencional. O traseiro tem pinça flutuante de dois pistões.
Faltou uma calibração mais refinada para o modelo. O chassi, ao absorver as forças provenientes da suspensão reflete em flexões que dão uma sensação de insegurança ao condutor. Um sag menor na traseira e maior na dianteira pode minimizar esse problema, mas por certo o chassi não absorve forças extremas se receber uma distribuição de peso de maior proporção atrás ou um excesso de carga. Isso, na versão esportiva não ocorre por causa da posição do piloto.
A dianteira tem ajuste hidráulico no retorno da suspensão e na traseira a regulagem se dá na pré carga da mola.
A dianteira tem ajuste hidráulico no retorno da suspensão e na traseira a regulagem se dá na pré carga da mola.
Melhorou muito nos últimos anos o acabamento das motocicletas Kasinski. Na GT 650 isso também se aplica. É verdade que ainda há espaço para melhorar, mas o acabamento não compromete o conjunto e mostra o esforço que a marca faz em sua evolução, apesar de estar ainda um degrau abaixo do padrão das marcas líderes. O encaixe das peças se dá muito bem, as fixações são confiáveis e bem dimensionadas e o tratamento de superfície das peças, qualidade das soldas e pintura estão bem adequadas.
O painel de instrumentos é o mesmo da GTR mas incorporado a um suporte sobre o guidão. As informações básicas estão todas presentes e o visor de cristal líquido exibe a velocidade em digitos grandes enquanto o mostrador analógico indica as rotações por minuto do motor.
A rabeta tem bom desenho, permite fixar com várias opções uma eventual bagagem. A iluminação do farol é boa, comandos com boa ergonomia e a lanterna de LEDs dá o toque moderno na traseira.
De um uso moderado para o uso intenso o consumo sobe bastante, veja na tabela abaixo:
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