Desde que assumiu a operação brasileira no início de 2011, a mais tradicional das marcas de motos do mundo vem efetivando uma completa renovação. A rede de concessionárias e os serviços pós-venda (peças inclusive) foram a prioridade. Acompanhou este esforço da empresa a renovação da linha de produtos, que no Salão Duas Rodas de 2011 se traduziu em 19 modelos – oito inéditos no mercado nacional e 11 motocicletas que apresentaram novidades para a linha 2012.
Há quem diga que quem compra Harley-Davidson não compra a moto. Compra a marca. Esse esforço que a Harley-Davidson empreende no Brasil indica que isso já não é um realidade absoluta. Só a marca e sua tradição já não são suficientes e os executivos da HD renderam-se à nova realidade e buscam atualizar suas motos. O mundo é transformado todo dia pelo avanço da tecnologia e como um dos slogans da H-Ddiz, “A Legend Can’t Stand Still” (Uma lenda não pode ficar parada). Você pode entender que a moto não pode ficar parada na sua garagem, mas também pode significar que a marca não pode se acomodar, sem renovar seus produtos.
Na verdade, a Harley sempre fez isso. Mas sempre com seus motores V2, partindo dos “f-heads”, “Flatheads”,”Knucleheads”, “Panheads”, “Shovelheads”, até os “Evolution”, “Twin Cam” e agora os “Revolution” de arrefecimento a líquido desenvolvido em parceria com a Porsche. São as classes de motores que a fábrica produziu nesses 110 anos. E os Revolution, estão rodando já há dez anos, conforme a placa comemorativa que há no modelo Night Rod, em teste agora pelo Motonline.
A par do movimento “Flag – Mom and Apple Pie” – culto à tradição norte americana (bandeira, mãe, e torta de maçã), a H-D representa fielmente o significado de liberdade para a nação. Conceito exportado ao mundo todo e também para o Brasil, essa cultura se renova também aqui, com a determinação em fazer deste um mercado significativo para seus produtos. Aliás, isso pode se traduzir em realidade rapidamente.
A Harley-Davidson comemorou quase 5 mil motos emplacadas em 2011 no Brasil e seu apetite por crescimento não pára. Para se ter uma ideia, esta linha das V-Rod 1250 em suas duas versões – V-Rod Muscle e Night Rod Special – vendeu em 2011 (junho a dezembro) 270 unidades e nos três primeiros meses de 2012 já emplacou quase 150 unidades. Este crescimento pode ser lido também de outra forma: a renovação dos modelos de motos atrai novos consumidores para a marca. Sem esquecer ainda que ter uma H-D é um sonho de liberdade de muita gente.
A Harley-Davidson Night Rod Special remete ao estilo dos automóveis dos anos 60, os Hot-Rods. Aqueles carros antigos com o motor aparente, muitos cromados, baixinhos e com a capota abaixada e rodas expostas. O estilo da Night Rod serve a essa imagem, do Hot Rod para arrancadas noturnas pelas “boulevards”.
Muita confusão se fez com esse nome. As primeiras V-Rod, ainda trazidas pelo grupo Izzo, receberam até da imprensa o nome V-Road. Nada a ver com o nome correto, que vem do termo “rod” (barra), uma palavra encurtada de “connecting rod” que quer dizer “biela”, ou a barra que conecta o pistão ao virabrequim. Então, um Hot-Rod nada mais é do que um biela “quente”. A V-Rod remete para a idéia de “bielas em V”, um nome de significado forte para a cultura daquele país.
Então fomos andar na Night Rod. Com todo esse significado em mente, da tradição do nome e do que significa rodar com uma autêntica Night Rod pelas ruas e estradas do Brasil.
Na cidade
Uma moto tão longa tem que se dar bem nas retas, para o que ela foi feita. Sair de um semáforo a outro com rapidez estrondosa e com o mínimo esforço. O super motor de 1250 cc esbanja torque para todo lado e o pneuzão traseiro empurra como um foguete para o próximo semáforo fechado. Então o ruído compassado da marcha lenta entra, fica marcando o ritmo para uma espera da próxima luz verde.
A vibração quase não se percebe e mesmo em grande aceleração, chegando próximo do limite da rotação, ela ainda é pouca. Para parar, chegando na outra esquina, percebe-se a grande participação que o freio traseiro tem na frenagem. Como toda custom, a distribuição de peso favorece a traseira, melhorando a ação daquele freio, sem diminuir a ação dos dianteiros duplos. A Night Rod freia muito bem. Em curvas, mesmo em esquinas deve-se ir com cuidado. O longo entre-eixos e o grande torque pedem atenção no acelerador com a moto inclinada.
Na estrada
É uma delicia andar com ela na estrada. Motor para toda obra e cinco marchas para adequá-lo às condições mais desejáveis. Como ele é muito elástico, o escalonamento se sobrepõe em muitas condições. Quer dizer que você sempre tem a opção de usar uma marcha alta para uma condução relaxada ou uma mais baixa para ter mais aceleração, porque a potência maior está nas rotações mais altas.
Nas curvas das estradas, ela pede cuidado por conta da longa distância entre-eixos, mas se chamada nas inclinações, até que vai bem. Não tem a agilidade de uma Naked ou esportiva mas com tranquilidade passa por todas as curvas das estradas e nas retas o motor da Night Rod se impõe. O conforto é bom, a suspensão absorve bem os buracos com as bengalas agora invertidas na frente. Na traseira, para quem esperava um rodar mais ríspido, nada disso. O banco é bem acolchoado e combina bem com o trabalho da suspensão.
Técnica:
Moto longa e baixa, a Harley-Davidson Night Rod reflete a tradição da marca. Em 1971 a Harley FX Super Glide definiu o estilo dragster para a marca e recebeu um banco-rabeta com ressalto para o garupa.
Assim o piloto fica mais perto do chão, permitindo uma condução mais relaxada, com os comandos avançados. A FXS Low Rider de 1977 foi mais além, rememorando a angulação do chassi “hard tail” (rabo duro) com descanso para os pés mais adiante ainda, no puro estilo “chopper”.
As V-Rod incorporaram esse visual com as características de uma ciclística lenta e relaxada, para muita estabilidade e conforto para o piloto e garupa, sem que o peso adicional de bagagem faça muita diferença. E a Night Rod foi contemplada com um banco bem baixo, seguindo esse desenho.
Extremamente longo entre-eixos (1705mm) combinado com o trail de 142mm fica ainda mais estável em retas, com o rake de 34º. Note ainda a grande distância que há entre as linhas de centro das bengalas com o eixo da direção (off-set). Tudo isso para permitir extremo conforto e previsibilidade nos percursos em reta, mesmo bastante acidentados. As novas bengalas “up-side-down” (invertidas) aumentam a rigidez do conjunto dianteiro. O resultado é bom e permite bastante espaço para inclinação, mesmo que a maneabilidade seja lenta. Mas a moto copia um pouco as irregularidades do piso, transmitindo ao piloto alguma reação, traduzindo em pequenos balanços na direção. Acostuma-se rápido e não traz outras consequências.
O chassi de tubos conformados por um processo de prensagem por água é composto de um berço duplo com tubos periféricos na estrutura superior. Grandes curvaturas foram adicionadas para a conformação da base do que seria o “tanque” (o combustível está sob o banco) e adequação da estrutura para a base do banco. A longa balança da suspensão traseira tem pouca inclinação para oferecer menor interferência na ciclística.
Na dianteira, as bengalas invertidas fazem muito bem seu trabalho de absorver os impactos sem refletir movimentos parasitas. Tem bom curso (nunca bateu no fim) e boa progressividade. Na traseira os dois amortecedores tem ajustes na pré carga das molas e a sua inclinação proporciona boa progressividade também. O assento faz um bom trabalho complementando o conforto para piloto e passageiro.
A versão comemorativa de 10 anos do motor VR permanece como o que incorpora mais tecnologia no seu projeto. Tem dois cilindros em V a 60º, quatro tempos, com sistema de acionamento das válvulas de duplo comando no cabeçote (DOHC) e refrigeração líquida. Boa potência, 125 cv e torque de 11,4 Kgf.m. O diâmetro e curso de 105mm x 72mm mostra a concepção moderna do propulsor. A curva de potência e torque são relativamente planas, o que oferece muita elasticidade.
O sistema de transmissão final por correia dentada, completamente isenta de barulhos necessita de grandes polias e elas foram muito bem integradas no projeto da moto. O câmbio de cinco marchas é longo e oferece bastante precisão nas trocas. A embreagem é de multiplos discos em banho de óleo e acionamento hidráulico.
Discos duplos na dianteira e único na traseira. Todos do mesmo diâmetro e com o ABS. Esse sistema, de tamanho reduzido é bastante eficiente na frente, mas solta com grande sensibilidade na traseira. Em reduzidas fortes é melhor deixar por conta do freio motor, que com o sistema deslizante não trava a roda e não solta tão facilmente quando se usa o freio normal, com o ABS. Todas as pinças são Brembo de quatro pistões.
Esmerado o acabamento, do tipo de quem faz um produto que pode durar uma vida. O conceito de desenvolvimento da Harley-Davidson é de produtos de qualidade que se percebe em cada detalhe. Da cobertura de aço do filtro de ar, ou do tanque falso; apenas uma cobertura da entrada de ar, que poderia muito bem ser de plástico, mas não é. O banco de couro original de fábrica; da qualidade da pintura em geral e especialmente do chassi. Soldas limpas e formação perfeita dos tubos hidroformados e das peças de reforço até a camada de cromo nas peças de bom brilho. Perfeição no roteamento da fiação e da qualidade das peças e componentes elétricos.
O estilo espartano da Night Rod implica num painel minimalista para os instrumentos. Seu desenho é inspirado no painel de carros antigos, com um relógio grande no centro e dois meio mostradores circulares dando as informações complementares. O grande mostrador central mostra além do velocímetro, um tacômetro à esquerda e na direita um bom indicador de nível de combustível. As outras informações e luzes espia vem indicadas no instrumento central (veja na ficha técnica quais são).
Tecnologia embarcada:
As setas indicadoras de direção desligam-se automaticamente, calculando quanto tempo devem ficar ligadas, com base na velocidade e ângulo da motocicleta. Sistema ABS (Anti-lock Braking System) reduz a chance de travamento das rodas quando for necessário frear bruscamente. O pneu traseiro tem 240 mm de largura, produz uma aderência poderosa com um visual único. A ergonomia foi modificada em relação ao modelo 2011, com pedaleiras menos avançadas e guidão um pouco mais recuado, ficando mais à mão.
Com uma cavalaria respeitável (125cv) e mais de 10 kilos de torque, essa moto acelera como um foguete e se parece com isso. Então, a Night Rod Special equilibra perfeitamente o compromisso entre design e performance – O visual agressivo do grande motor, fica ampliado pela enorme roda traseira, mostrando que ela tem tudo para agradar aqueles que gostam de potência pura, num estilo que não deixa dúvidas. Apenas para provocar, por onde anda a Yamaha V-Max?
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