Se entre os carros a Honda brasileira é discreta, com uma linha que se resume a Fit, City, Civic e CR-V (Accord agora só sob encomenda), entre as motos a história é bem diferente. Líder disparada do mercado nacional, com quase 80% das vendas, a marca japonesa estende seus domínios a quase todos os segmentos. Um deles, porém, estava desfalcado: o das pequenas esportivas, onde a Kawasaki Ninja 250 reinava praticamente sozinha desde 2009. Pois a resposta acaba de chegar às lojas, importada da Tailândia. É a CBR 250R, irmã menor da 600 de mesmo nome.
A primeira dúvida que surge na cabeça do consumidor é: como fica a CB 300R? Elas conviverão pacificamente. Embora tenha motor menor (é uma 250 contra uma 300), a nova esportiva traz maior tecnologia, como propulsor refrigerado à água, balancins roletados e câmbio de seis marchas, entre outros recursos. É, também, um produto mais exclusivo, com preços a partir de R$ 15.490, ante R$ 11.690 da CB. Enquanto a 300 serve de degrau para quem está vindo das 125/150 cc, a CBR mira num cliente que procura desempenho mas também quer se diferenciar da multidão.
E nisso a “CBRzinha” chega arrebentando. "Agora a Honda acertou, hein?", brincou o dono de uma CG parado no semáforo. Realmente a nova 250 dá um show de design com os detalhes inspirados na grandalhona VRF 1200, como os faróis com as pontas espichadas. E essa mistura de cores azul, branca e vermelha (há também opção de preta) combina em cheio com o estilo da moto. A concorrência envelhece perto dela.
Embora a CBR tenha naipe de esportiva, a posição de pilotagem é bastante confortável, sem que o corpo fique muito inclinado à frente. A embreagem e o câmbio são macios, enquanto os retrovisores agradam por mostrar bem mais que nossos ombros, por serem bem abertos. Esses fatores contribuem no uso diário, fazendo com que a CBR seja algo muito além de um brinquedo de fim de semana.
Um giro urbano também mostra outras qualidades: a CBR responde rápido desde baixos giros, ainda que o torque máximo de 2,34 kgfm só esteja disponível a 7 mil rpm. Mesmo em segunda marcha, quase parando, você pode acelerar que ela não pipoca. E a suavidade de funcionamento do motor monocilíndrico está presente em todos os regimes de giro, o que torna a condução muito prazerosa quando a gente quer explorar todos os 26,4 cv disponíveis.
Para completar, a agilidade aos comandos e a leveza com que ela muda de faixa e faz curvas impressiona. Melhor que isso, só a resposta dos freios. Além de potentes, os discos dianteiro e traseiro contam com a preciosa ajuda do C-ABS, item opcional que eleva o preço da CBR a R$ 17.990. OK, é muita grana por uma 250, mas o equipamento garante uma segurança inatingível pelas rivais.
Como era de se esperar pela excelente estabilidade, as suspensões da CBR são suscetíveis a pisos ruins. Com acerto firme, a moto transmite quase sem filtro as imperfeições do asfalto, mas é o preço a se pagar pela esportividade. Outro item que poderia ser melhor é a capacidade da tanque, de apenas 13 litros, o que limita a autonomia. Pelo menos o consumo ficou em níveis bem animadores, com média ao redor dos 30 km/l em nossa avaliação.
Uma Ninja na parada
Para falar sobre o desempenho da CBR, nada melhor do que chamar a referência da categoria, a Kawasaki Ninja 250 (tabelada a R$ 15.550). Então provoquei meu colega de profissão, o jornalista Luciano Veiga, dizendo que a CBR iria despachar a Ninjinha que ele tem na garagem. E lá fomos nós resolver a questão, num passeio que incluiu trechos de cidade e estrada.
Veiga logo se impressionou pelo visual da Honda, enquanto eu fui conferir a Ninjinha. A diferença de modernidade é flagrante em favor da CBR, especialmente quando observamos o painel. Enquanto a Honda traz um belíssimo e completo quadro de instrumentos que mescla informações digitais com conta-giros analógico, o da Kawa parece ter sido desenhado nos anos 1980: todo analógico e pobre de informações – falta até um simples marcador de combustível. Quando a gasolina está para acabar, acende uma luzinha que funciona como aviso de reserva. Pelo menos a Ninja tem um tanque maior, de 17 litros.
Quanto ao design, a Kawasaki 250 repete o estilo bem agressivo das Ninjas maiores. “Acho que ela tem mais presença, enquanto a Honda parece mais refinada”, diz Veiga. Mas o proprietário da Kawasaki reconhece que o painel precisa de uma reforma urgente. “Não tem nada a ver com a moto”. Já a CBR esnoba a rival com odômetro parcial, relógio e termômetro num display de cristal líquido com iluminação azulada, que curiosamente lembra o do Civic.
Antes de cair na estrada, um pouco de trânsito serviu para a CBR contar vantagem. Ela é mais maleável entre os carros. Na Ninja encontramos certa dificuldade por conta dos retrovisores com campo de visão limitado e posicionados na altura dos demais veículos. Além disso, o motor da Honda é mais presente em baixos giros. Na Kawasaki é preciso ficar reduzindo marchas para “acordar” o propulsor. O torque de 2,24 kgfm a altas 8.200 rpm deixa claro que o motor da Ninja gosta de viver em alta rotação.
Quando o caminho fica livre, é a Kawasaki que pula na frente. Nessa condição, o motor de dois cilindros gira feliz até 13 mil rpm (na Honda a faixa vermelha do conta-giros começa em 10.500 rpm) e faz a Ninja impor seus 33 cv sobre os 26,4 cv da concorrente. É um propulsor mais agudo, tanto em comportamento quanto no ronco, claramente mais “nervoso” que o da CBR. O desempenho impressiona para uma 250, e nesse ponto ela continua o modelo a ser batido na categoria. Mas a Honda também surpreendeu Veiga pelo fôlego na rodovia. “Pensei que ela era boa apenas em baixas rotações, mas na estrada ela agrada bastante também”. Já o manejo do câmbio (ambos de seis marchas) e dos freios são muito parecidos nas duas motos, com ponto extra para a CBR se equipada com ABS.
A esportividade da Ninja também fica evidente na posição de pilotagem, mais inclinada, e na forma como os joelhos se encaixam no tanque. Já a Honda deixa o piloto mais confortável, tanto pelo guidão mais alto quanto pelo banco com um pouco mais de espuma. Lembra que exaltei a estabilidade da CBR? Pois a Ninjinha não fica nada atrás em ciclística, cabendo mais ao piloto saber explorar seu limite do que o da própria moto. Tanto a Honda quanto a Kawasaki têm mais ciclística que motor, característica que as tornam ideais para motociclistas iniciantes no mundo das esportivas.
No fim do passeio, a pergunta crucial para Veiga: Trocaria a Ninja pela CBR? “Sim, eu adoro a Kawa, mas ficaria com a Honda pela versatilidade. É mais prática e confortável para o dia a dia, sem deixar a desejar na hora de acelerar”. Concordo com meu colega. A Ninja anda mais, mas a CBR vence pelo conjunto da obra.
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