A versatilidade é uma das principais características de uma motocicleta, principalmente no caso dos modelos de uso misto, mas a habilidade de transpor obstáculos em qualquer tipo de terreno não é algo que se aprende sozinho. E mesmo o motociclista comum e com pouca experiência nos terrenos mais radicais pode, um dia, precisar desse conhecimento para encarar imprevistos nas viagens. O mineiro Felipe Zanol, vice-campeão nos últimos dois Rally dos Sertões e melhor piloto não europeu no Rally Dakar 2012 – foi o 10° colocado – passou algumas dicas sobre as melhores maneiras de superar os obstáculos. “São técnicas simples, mas que fazem grande diferença para quem enfrenta um trecho de terra sem muita experiência”, resume Zanol, piloto da equipe Honda Mobil, que encarou diferentes situações na região do Pico das Agulhas Negras, área de divisa dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Cuidados prévios com a moto
A diferença entre os terrenos exige um acerto especial para um piso irregular. “Pequenos ajustes podem melhorar a pilotagem em trechos fora de estrada, mesmo com uma big trail em terrenos muito lisos, como lama. Baixar a calibragem é um deles; se normalmente você usa 30 libras, baixe esse número para 15, mais ou menos, pata ter mais aderência e segurança”, explica Zanol. “Protetores de mão também se fazem necessários, já que um galho pode bater no manete, te atrapalhar e até mesmo acionar o freio dianteiro por acidente.”
Levantando a moto
Nem sempre o piloto conhece a maneira mais eficiente de erguer a moto caso ela sofra uma queda. “Muita gente pega a motocicleta pelo meio ou pela traseira, mas é muito mais pesado. O certo é levantar pela extremidade do guidão, usando o corpo como alavanca para ficar mais leve”, conta Zanol. Antes de voltar a rodar é preciso verificar as condições da moto. “Acontece de empenar o pedal de freio, comprometendo a pilotagem. Em modelos mais antigos, antes de levantar é bom verificar se a moto está realmente desligada para evitar problemas elétricos.”
Frenagem em trechos irregulares
A técnica de dosar os freios dianteiro e traseiro é parecida com a da frenagem no asfalto, mas precisa ser tratada com uma atenção ainda maior. “O dianteiro é aquele que efetivamente para, enquanto o traseiro trabalha mais para posicionar e equilibrar a moto, é quem controla uma possível derrapagem”. Outra dica é utilizar ao máximo o freio motor para evitar o bloqueio das rodas. “ Reduza as marchas e já solte a embreagem, acionando o freio em seguida.”
Pilotando em pé
O terreno irregular tira o piloto de sua zona de conforto, e isso pode implicar em uma pilotagem em pé. “Você encontra muitas pedras, solo irregular, troncos. Ficar em pé facilita bastante porque não se absorve aquela irregularidade, aumentando o equilíbrio e a segurança”. E o equilíbrio em pé pode ser treinado na garagem de casa. “Montar na moto e tentar mantê-la em pé é um ótimo exercício para ganhar equilíbrio e aumentar seu controle. Mas o ideal mesmo é fazer um curso simples de pilotagem.”
Encarando trechos alagados
No caso de uma poça d’água grande ou um trecho transbordado sem tantas irregularidades, o piloto precisa apenas tomar cuidado para a moto não escorregar ou parar, mantendo a dosagem do acelerador. Mas se o caminho contar com pedras e um piso naturalmente mais escorregadio, a melhor opção é passar ao lado da moto. “Se for um riacho com correnteza, por exemplo, você deve sair da moto, escorá-la com seu corpo e controlar acelerador e embreagem.”
Em cima da lama
A antecipação da frenagem nas curvas é uma das principais dicas para aumentar a segurança na lama. “Se frear em cima da curva, o piloto pode cair ou passar direto. O correto é frear antes, evitar os trancos e acelerar com suavidade. Também não se pode inclinar dentro da curva, pois a tendência é a moto derrapar. A hora de ganhar velocidade é na saída, e isso também vale para dias de chuva forte”. O pneu com calibragem mais baixa é novamente recomendado. “Caso uma subida na lama comece a dar trabalho, murche um pouco o pneu para ele ficar com uma área de contato maior com o solo e garantir mais aderência.”
Subidas íngremes
Segundo Zanol, o segredo é já chegar embalado na hora de subir um barraco com mais inclinação. “Acelerar já em cima do barranco fará a moto patinar. O certo é acelerar antes, sem movimentos bruscos, porque você sobe no embalo. Tem que ter muito controle sobre o acelerador e ‘queimar’ um pouco a embreagem para transmitir a potência certa para a roda e evitar que patine.”
Descendo rampas de terra
Uma descida em piso irregular fica menos complicada com a utilização plena do freio motor. “Você se posiciona antes de descer e solta a moto, em 1ª marcha, utilizando o freio traseiro. Você pode descer em pé ou sentado e isso vai mais da confiança do piloto; se não tiver um bom equilíbrio, fique sentado mantendo o pé mais próximo do chão. A vantagem de descer levantado sobre a moto é que seu pé já está em cima do freio traseiro.”
Nas pedras
Subir e descer pedras também exige cuidados com aceleração e embreagem, mas o piloto precisa lembrar que o piso está ainda mais escorregadio. “Tem que ir sempre devagar, com o pé próximo ao chão, sem deixar a moto embalar ou arrancar rápido, principalmente quando for necessário superar trechos com pedras soltas. É melhor ficar sentado porque uma pedra pode rolar e te fazer perder o controle, e o pé ajudará a manter o equilíbrio.”
Pontes estreitas
Zanol explica que a passagem deve ser feita pelo meio da ponte para aumentar a margem de segurança. “O normal seria andar onde está a marca do pneu do carro, nas duas extremidades, mas se você checar e perceber que é possível passar pelo meio, essa é a melhor escolha. E toda vez que você encontrar uma ponte estreita, reduza a velocidade e alinhe a moto antes de passar por ela, porque o piso normalmente é mais escorregadio. Se você deixar para corrigir a trajetória em cima da ponte, a moto pode te jogar para fora.” Caso o piloto não sinta confiança, a melhor alternativa é ser cauteloso e passar pela ponte ao lado da moto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário